Foto do mês (edição fevereiro 2025): O Grande Cometa de 2025

 

Tendo nascido alguns anos após a última passagem do Halley, não imaginava que veria um cometa antes de completar os 70 anos de vida. Até que em 2020, em meio à pandemia de covid-19, quarenta anos antes da próxima passagem do Halley, veio o Neowise. Por uma dramática ironia do destino, ele foi muito bem avistado no hemisfério norte, aparecendo já fraco para nós ao sul do Equador. Fugi uma noite para tentar fotografá-lo e ao mesmo tempo que foi emocionante, foi decepcionante. Acabei ficando com outras fotos do céu estrelado daquela noite, mas o Neowise, já muito fraco para uma boa foto, ficou na memória. 

 

Pensando que o próximo cometa possível de avistar seria o Halley, no longínquo inverno de 2061, fui surpreendido novamente. A partir do final de setembro de 2024, o “Cometa do Século” iluminou os céus do Brasil. Dessa vez, por coincidência, eu que me desloquei ao hemisfério norte, onde consegui vê-lo um pouco fraco por uma noite. Com esperança de conseguir outras chances de fotografar o Cometa do Século nas noites seguintes, fui contrariado pela meteorologia e tive que me contentar com a foto que deu pra fazer naquela primeira e única noite. Mais uma vez a realidade frustrou a expectativa.

 

De novo, imaginando novamente que deveria esperar pelo menos até o Halley, já que não haverá outro “cometa do século”, a notícia da descoberta do C/2024 G3 (ATLAS), o “grande cometa de 2025”, quase me passou despercebida. Sendo melhor visível no hemisfério sul, sua passagem não teve o mesmo brilho nos meios de comunicação convencionais como o Neowise, talvez só por mais uma dramática ironia do destino. Ignorado pela mídia, o Grande Cometa de 2025 foi, sem dúvida, o avistamento mais bonito do século até agora. E infelizmente pouca gente parou para vê-lo. 

 

Eu mesmo quase não o vi! Fiquei sabendo dele quando, em dezembro de 2024, sua magnitude começou a aumentar e ficou quase visível ao amanhecer do Sul. Essa informação se perdeu em algum buraco negro das minhas anotações e nunca mais ouvi falar no tal cometa. Até que, no dia 19 de janeiro, apenas a três noites de desaparecer para sempre nos confins do Universo, vi uma foto sua – e me desesperei. 

 

Não estava preparado para fotografar naquelas noites e o tempo nublado não ajudava. Com uma paisagem nada interessante nos arredores para buscar uma composição com o cometa, passei a tarde inteira do dia seguinte olhando para imagens de satélite tentando encontrar alguma árvore isolada, construção abandonada ou qualquer coisa que não fosse um universo infinito de soja até o horizonte crepuscular. 

 

Descobri um local relativamente bem acessível, afastado da poluição luminosa urbana e que tinha duas pequenas árvores sobreviventes ao ecocídio do agronegócio. Mas chegando lá a monocultura de soja já alta quase encobria a visão das árvores. E as nuvens encobriram a visão do cometa.

 

Após pouco mais de uma hora de espera, um brilho diferente de uma estrela desponta por detrás das nuvens. O brilho foi ficando mais baixo no horizonte, entre grossas camadas de nuvens, revelando cada vez mais a cauda do cometa. Decepcionado com a paisagem e toda a soja, desisti de uma foto de paisagem e usei uma teleobjetiva para guardar um retrato do belo cometa já em estado de desintegração. 

Estarei mais preparado para as próximas aparições desavisadas de corpos celestes como esses. Mas se não houver mais nenhum outro cometa surpresa, pelo menos ainda tenho 36 anos para me preparar para uma boa foto do Halley.